A Festa de Babette

“Então ele se lançou chorando sobre o seu irmão Benjamim e o abraçou, e Benjamim também o abraçou, chorando. Em seguida beijou todos os seus irmãos e chorou com eles.”  Genesis 45.14-15a

 

No final do século XIX, por volta do ano de 1871, em um vilarejo no litoral da Dinamarca, Babette – uma refugiada da comuna de Paris que teve seus filhos e marido arrancados brutalmente de seu convívio em função da guerra franco-prussiana – decide refazer sua vida. Ela oferece sua força de trabalho a duas irmãs solteiras, filhas de um antigo pastor daquela comunidade, em troca de moradia e alimentação. Babette se torna serviçal não apenas de suas “benfeitoras”, mas de toda aquela comunidade. Passados aproximadamente doze anos de “escravidão”, Babette, para surpresa de muitos, recebe um prêmio de dez mil francos, dinheiro suficiente para abandonar aquela vida de subserviência e humilhações. Porém, contrariando a expectativa de todos daquele vilarejo, ao invés de partir rumo à “liberdade”, ela decide – para o espanto de todos – gastar todo dinheiro que recebera fazendo um jantar em comemoração ao centenário de nascimento do falecido pastor daquela comunidade que descobriu que Babette fora uma das melhores cozinheiras de Paris.

Os aldeões daquela ilha eram amargos, de dura cerviz, demasiadamente corruptos, amantes de si mesmos, incapazes de enxergar o abismo de sua natureza e de seu pecado, imerecedores de qualquer deferência por parte de Babette, objeto de seu escárnio e humilhação. Porém Babette age com graça e misericórdia abençoando a todos, oferecendo àqueles que nada mereciam tudo aquilo que tinha.

Essa é a história de José. Essa é a mensagem de Jesus em sua Cruz. Um perdão genuíno que gera arrependimento sincero; que não se manifesta apenas enquanto superação das marcas e feridas de um passado sombrio, mas de um futuro que se transforma em benevolência oportuna àqueles que tanto mal fizeram a nós. Perdoar é transcender o próprio eu e os cuidados que nutrimos por nós mesmos abraçando a mensagem da cruz e suas consequências ao amar os que nos odeiam.

O banquete oferecido por Babette torna evidentes para aqueles aldeões a natureza e extensão de seus pecados e de seu distanciamento do evangelho pregado por gerações naquela comunidade. Como em A Festa de Babette*, o perdão de José restaura sua família e exemplifica o real motivo de nossa existência – glorificar a Deus mesmo que isso represente sacrificar nossas vidas e vontades. Tudo gira em torno da salvação. Deus entrega o melhor de si mesmo para salvação daqueles que o rejeitam; que não o merecem; que são indignos; que são meros pecadores. Esse é o evangelho da graça. Essa é a mensagem da cruz. Perdão àqueles que não o merecem: nós.   

 

*A Festa de Babette: Filme dinamarquês de 1989, dirigido por Gabriel Axel, que conta a história de Babett.