A primeira pedra

Falando novamente ao povo, Jesus disse: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”.  João 8.12

 

Ela seria apedrejada. Já estava certa de que a morte a esperava ansiosamente. Seus cabelos, misturados a suor e lágrimas, cobriam o rosto que denunciava o cansaço de se debater contra seus acusadores. Os braços amolecidos eram levados com brutalidade e ira. Não sabia aonde ia nem com quem se encontraria. Os homens gritavam insultos, esbravejavam denunciando seu erro, sua vergonha, sua nudez, seu pecado. Estavam no seu direito, pois a Lei era bem clara sobre o destino dos adúlteros. Passavam-lhe pelos pensamentos todas as decisões erradas que havia tomado. O arrependimento lhe esmagava o peito.

Rispidamente seus braços foram lançados para baixo, suas mãos encontraram o chão poeirento. Tossia sem parar agora. “Mestre, esta mulher foi pega em adultério, e a Lei manda que a apedrejemos”. Todos se calaram esperando a resposta. Com os olhos cerrados, ela só aguardava impaciente pelo primeiro golpe. Não ousava levantar a cabeça. A posição era de extrema humilhação, mas quem se importaria com isso depois de ter sido arrastada por quase toda a cidade pela multidão de justiceiros? Pelo canto do olho, reparou que o estranho Mestre escrevia no chão. “Diga-nos, Mestre! O que devemos fazer a ela? Diga-nos!”  Um turbilhão de dúvidas tomou conta de seu coração. Por que precisavam da aprovação desse Mestre?  A Lei já não era clara sobre o seu destino? Por que não acabar logo com essa angústia? O que mais ele sugeriria que fizessem com ela? Olhos cerrados novamente e braços bem encolhidos junto ao corpo. Esperava que os golpes fossem rápidos e que tudo aquilo acabasse logo. “Aquele que está sem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra.” Seus olhos iam abrindo-se devagar, à medida que ouvia o barulho abafado das pedras tocando o solo. Uma a uma.

Olhou ao redor, e todos se foram. Somente um ficou. O Mestre. “Onde estão os teus acusadores?” Nunca havia ouvido palavras tão doces antes. A voz saíra-lhe fraca: “Ninguém, Senhor.” “Eu também não te condeno. Vá e não peques mais.”  Não conseguia explicar o desconcerto que tomara conta de seu ser. O coração morto voltou a bater. A vida voltou para aquele corpo desprezado, e ela devia isso a Ele, ao Mestre. Ele poderia não ter ligado, seria apenas mais uma adúltera apedrejada na cidade. Por que a salvou? Ele não a conhecia, não poderia pedir-lhe favores. Então, foi. Correu pelas ruelas como que ainda fugindo das acusações. Recostou em uma das paredes de pedra pelo caminho e pensou: “Devo minha vida a Ele, pois me salvou de graça! Lembro-me de algo sobre luz. Eu quero essa luz!” Fez questão de seguir o único conselho que o Mestre lhe dera: “Vá e não peques mais.” E ofereceu a vida ao Mestre que um dia lhe devolveu a própria vida sem pedir nada em troca!